quinta-feira, 12 de junho de 2014

O primeiro dia do resto da minha "nova" vida

Dia 2 de Janeiro de 2012. Acordei com aquela fantástica claridade "londrina" pela qual sempre fui apaixonada. Abri os olhos, vi um céu azul lindíssimo, preparei-me para me levantar e aproveitar mais um dia naquela cidade maravilhosa. Nem foi preciso acabar de me sentar na cama... algo estava errado, tudo estava errado à minha volta: a sensação da noite anterior não tinha passado, estava igual, tudo igual, eu sentia-me fora de mim, sentia-me fraca, com um aperto no peito, um medo de tudo e mais alguma coisa. A casa não estava igual, a vista da casa não era a mesma, a luz, o sol, as árvores, nada era igual ao que sempre fora. "Estou a sonhar" - pensei de imediato - "ainda estou a sonhar, estou num pesadelo". À medida que ia pensando que tudo estava diferente, mais diferente ficava, mais fraca me sentia; sentia-me igualmente tonta, não tinha forças para estar de pé. Mas porquê? Dirigi-me ao espelho da casa de banho e observei-me, eu estava ali, era a minha imagem, mas não me sentia eu, de imediato comecei a beliscar-me, queria "sentir-me". Decidi tomar banho para ver se passava, mas nada. A sensação ia piorando e sentia o meu peito a arder, toda eu ardia por dentro, sentia um buraco no peito, tremia, tinha tanto medo. Estava a ficar louca. Quanto mais queria que aquela sensação passasse mais ela crescia. Não consegui comer nada, o estômago andava às voltas. Pego no portátil e decido colocar no motor de pesquisa todos os sintomas que tinha tido e ainda tinha, resultados: ATAQUE DE PÂNICO, ANSIEDADE, DESPERSONALIZAÇÃO, DESREALIZAÇÃO. Tudo me era desconhecido, dizia que pelo menos seriam necessários cinco sintomas para ser um ataque de pânico: eu tinha tido todos os sintomas que lá estavam. Comecei a ler tudo o que havia para ler sobre isto. Erro crasso: fui ler testemunhos de pessoas que diziam viver nesta espécie de sonho à mais de 8 anos, que não tinham cura, que era uma vida horrível. Li que era urgente ir a um psicólogo, a um psiquiatra, que era necessário medicação. Maior era o meu desespero: eu estava em Londres, tinha ainda mais três dias ali de estadia, como ia eu ao médico? Como ia eu ser medicada? Eu só queria que aquilo passasse. Lembro-me de me ter ido enroscar no sofá para dormir, só queria dormir para não sentir, só queria acordar e estar bem. Acordei várias vezes durante a tarde, cada vez que acordava a sensação lá estava e chorava muito. Voltava a dormir, acordava e chorava. Comecei de imediato a pedir muito a tudo o que fosse divindade para eu voltar a ser quem era. Eu já não era a mesma pessoa. Não me saia da cabeça o que tinha lido na net e que era tremendamente assustador: despersonalização e desrealização. Nunca eu tinha ouvido falar em semelhantes coisas, estava mesmo muito aflita, achava com toda a certeza que estava a ficar maluca, que ia ser o resto da vida uma pessoa infeliz, que nada voltaria atrás e porque seria que isto me tinha acontecido, eu uma pessoa sempre tão feliz com a vida, sempre a rir, a saltar, a cantar, com vontade de viver. Porquê a mim?! É certo que me encaixava nas características comuns de quem tem mais probabilidades de ter ataques de pânico, é certo que desde que me conheço sempre tive ataques altos de ansiedade, de nervos, sempre tinha tido umas sensações esquisitas, mas que sempre tinham passado... tanta e tanta coisa que agora, neste momento, percebo porquê. Percebo que afinal isto não me aconteceu do nada, que muitos sintomas já eu tinha, mas que agora por ter tido aquela sensação extrema tudo ficava alerta na minha cabeça, tudo está ainda sempre alerta na minha cabeça.

terça-feira, 10 de junho de 2014

O início - ataque de pânico



Foi a 1 de Janeiro de 2012. Sim, logo no primeiro dia do ano para começar bem. Melhor ainda, ainda nem 1h da manhã era. Ali estava eu, em pleno Piccadilly Circus, Londres, com milhares de pessoas à minha volta, cheia de fome e a pensar “epa caia agora mesmo bem era um Big Mac”. Lembro-me de olhar em volta por entre a multidão e do nada sinto uma sensação estranhíssima mas que não me era de todo desconhecida: parecia que de repente estava a sair de mim, tudo parecia uma espécie de filme 2D, o som parecia ter mudado, sentia a minha cabeça estranha, quase que me estava a ver fora de mim, algo quase indescritível. Ao longo de um ano esta sensação volta e meia aparecia durando uns 5 segundos e ia embora. Eu estranhava, assustava-me, não percebia o que seria, mas passava. Lembro-me de ter havido uma vez que essa sensação veio e durou mais que o habitual, dei uma volta na rua para apanhar ar e desapareceu; foi até a primeira vez que comentei com alguém aquele “estranhamento” que sentia, mas passou, esqueci. Ninguém percebia aquilo que descrevia. Voltando a Londres, aquela sensação foi brutalmente mais forte que o normal, teimava em não passar o que despertou em mim um medo horrível. Comecei a ter suores frios, vomitei, o meu coração parecia que saltava do peito, achava que ia ter um ataque cardíaco, vomitei novamente, a sensação não passava parecia que aumentava, toda eu tremia, por momentos julgo que apaguei pois lembro-me de estar em pé e de seguida só me recordo de já estar sentada. As pessoas começavam-me a meter medo mesmo sem me dizerem nada, sem olharem para mim, o medo que se acumulou no meu peito era completamente desesperante, só queria fugir, gritar. O meu corpo tremia sem parar, doía-me o peito. Lembro-me de dizer à pessoa com quem estava que queria que me dessem um tiro, queria sentir uma dor física extrema para conseguir sair daquele estado quase de transe. Obviamente que quem estava comigo sentia-se impotente, não sabia o que me havia de fazer pois nem eu mesma conseguia transmitir o que tinha. Queria tanto voltar para a casa onde estava hospedada qual porto seguro, e quanto mais eu percebia que ainda ia demorar bastante a lá chegar, mais medo eu sentia, mais chorava, mais me beliscava. Belisquei-me tanto para sentir dor, para simplesmente me sentir, sentir que existia. Finalmente cheguei a casa, só queria dormir, dormir muito pois sabia que no dia seguinte acordaria e tudo estaria bem. Errado, totalmente errado. Acordei, e imediatamente começou o início deste pesadelo.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

"Quem és tu?" - perguntarão vocês



Olá, eu sou a Ana.
Tenho 28 anos, sou uma rapariga comum que adora moda, maquilhagem, cinema, teatro, livros, viajar… entre tantas e tantas coisas. Adoro sonhar acordada. Adoro animais; cães, principalmente. Adoro rir, rir muito de tudo e mais alguma coisa. Adoro cantar e dançar, mesmo quando estou sozinha. Adoro viver.

Olá, eu sou a Ana.
Tenho 28 anos e há dois anos que tenho ataques de pânico. Era um rapariga comum… continuo a ser aos olhos de quem me vê, mas infelizmente deixei que os ataques de pânico e o que deles advém tomassem conta de mim a tal ponto de ter saudades da pessoa que era levando-me a uma “pequena” depressão.  

Criei este blog com a intenção de exorcizar esta minha “doença”, quero dar os meus testemunhos, descrever tudo isto que estou a passar, os meus avanços e recuos, não só para meu bem como também porque sei que ai desse lado do computador existem milhares de casos iguais a mim (ou parecidos porque nunca somos iguais) e que precisam de ajuda. Sei que todos temos medo de pedir ajuda, que achamos que mais ninguém tem o mesmo que nós, que estamos a ficar loucos, que somos seres diferentes, que ninguém nunca nos irá conseguir ajudar. Quando temos coragem procuramos toda a informação possível na internet; umas vezes aquilo que encontramos alivia-nos, outras vezes ficamos pior do que estávamos. Cada caso é um caso, existe muita coisa verdadeira na net e que nos ajuda, mas também existe muita coisa falsa e que nos põe piores. Procurei testemunhos reais pois sei que a partilha é bastante benéfica nestes casos, afinal somos pessoas que temos várias coisas em comum e que nos podemos ajudar; fiquei um pouco farta de ler apenas sites de medicina sobre estes casos, sites onde são médicos a falar, fóruns onde meia dúzia de pessoas falam mas depois termina por ali… nós não estamos sozinhos. E eu, eu estou aqui para o que precisarem, estou aqui porque preciso também de vocês, portanto nem que seja só um comentário em branco, com as vossas iniciais ou um nome fictício, deixem qualquer coisa para eu perceber que de algum modo vocês também estão ai desse lado. Será como uma história em que me vou expressando por capítulos.

Sejam bem-vindos a esta minha-nossa-vossa aventura.
Obrigada.

Um beijinho.